Mensagens

A mostrar mensagens de abril, 2009

Um punho cerrado

Gare de Sta. Apolónia, acabava de chegar de Coimbra. Um dos mendigos, dos muitos que passam por ali a noite, aproximou-se de mim com aquela cara miserável que convém a alguém que vive daquilo que se julga sem direito: o meu dinheiro. Teria uns cinquenta anos, camisa desabotoada, calças às riscas, casaco castanho às nódoas; arrastava uma perna retorcida. Pediu-me 100 paus, dei-lhos e como estava nos meus dias comecei com filosofias, e lares, e Seguranças Sociais e reabilitações. De repente agitou-se, abriu a camisa apontou-me o lado esquerdo do peito e disse naquela voz entaramelada pela manhã de um bêbado: — Vê este punho fechado, com dois elos inteiros e um partido? Acenei com a cabeça. — Vi-o pela primeira vez à mais de 20 anos numa viagem por aí, pelo mundo. Olhe, dessa vez voltava da Suiça, da fruta. Umas horas antes um qualquer desgraçado tinha-me roubado a mochila na praia de Torremolinos, tinha ficado sem nada, nem umas cuecas tinha, foi com uma toalha à volta do cu que fui ao c

Philip Roth

Fechar A tua avaliação foi adicionada com êxito. Fechar Desculpa, ocorreu um erro enquanto a tua avaliação era adicionada. "quando fazemos amor com uma mulher, tudo aquilo de que não gostamos na vida e tudo aquilo que nela nos derrota é, momentaneamente, vingado!" Philip Roth in "O animal moribundo" ("O animal moribundo" foi talvez o melhor romance que li nos últimos anos)

Cabeçalho

Imagem
Escrevo um diário há mais de 20 anos. De cada vez que abro um dos 120 cadernos A4 que se amontoam na estante é como se reencontrasse um velho conhecido, alguém em que reconheço uma profunda dedicação a este espinhoso " ... mestiere di vivere ". Sei que só “… aprendemos a viver quando a vida já passou”. Preciso ler-me para que o meu respeito por mim próprio seja inabalável: entender as circunstâncias que me levaram aos fracassos e relativizar os sucessos. Encontro esse outro eu que já não é, e previno a pior das doenças da alma: " ... entre as nossas doenças, a mais selvagem é a de desprezarmos o nosso ser ". Num tempo novo, com novos meios, escrevo, ou transcrevo aqui, uma parte pública desse diário.