gajas boas

acaba o Verão e lentamente, da mesma forma que se extingue a flauta do Deus Dionísio, começa a decrescer o rácio de gajas boas (GBs) por gajas normais*.
e é fácil perceber o porquê desta diminuição, basta aprofundar um pouco mais conceito de gaja boa (GB).
gaja boa é uma noção fluida (há duas horas que penso numa axiologia minimamente consistente e nem vislumbre dela). ser gaja boa é antes de mais ser reconhecida como gaja boa.
antes de mais uma GB é uma gaja que crê ser uma gaja boa, é reconhecida pelas outras gajas como uma GB e tem algum feedback masculino, a saber, é atraente, é desejada na rua e já foi capaz de seduzir alguns homens reconhecidos como atraentes [aqui já estamos em terreno pantanoso, qualquer mulher com um bom waist-hip ratio, um rosto bonito, uns seios bem feitos, etc…, consegue produzir o mesmo efeito sem ser uma GB].
fixemos então que ser uma gaja boa é apenas sentir-se uma gaja boa.
mas o que é efectivamente uma gaja boa? como é a génese da sub-espécie?
não há geração espontânea de GBs. os responsáveis são a mamã, o papá da menina e a baixa autoestima sexual dos homens portugueses (desconhecem o poder que tem um corpo de macho, um corpo bem treinado, umas mãos hábeis e uma língua destra sobre uma mulher), sempre pródigos em salamaleques perante a remota hipótese de aconchegarem o seu José Tranquilino,, entre as coxas de uma mulher (de preferência as de uma GB).
Mas como todas as mulheres sabem uma gaja boa é quase sempre uma construção temporária, resulta de horas de caros cuidados diários e de anos de treino em esconder os defeitos físicos; rugas, veias salientes, um narizes aduncos, mãos feias, pés ossudos, celulite, cintura demasiado larga, pouco rabo, varizes, cabelo estragado, cabelo branco, dedos tortos, pernas demasiado finas ou demasiado grossas, lábios demasiado finos, etc…, uma infinidade de defeitos que reduzem rapidamente uma GB a uma gaja normal após a primeira sessão de cama. a intimidade é como o algodão, nunca engana!
acrescente-se ao acto de esconder os defeitos o de sobrevalorizar os sinais sexuais exteriores e não é nenhuma surpresa que quando acabam as férias e o Deus deixa de soprar a sua flauta comece a diminuir o número de gajas boas.
desmorona-se a construção. um libertino, um gourmet sexual (GS) não dá preferência às gajas boas, pelo contrário, com saudáveis excepções, tende a evitá-las.
e porquê?
são caras?
são difíceis de seduzir?
não, pelo contrário; há gajas boas para todas as bolsas e qualquer sedutor sabe que é mais fácil seduzir uma mulher que se considera atraente do que seduzir uma que não se considera atraente.
o gourmet sexual (GS) evita as gajas boas pela simples razão que propiciam pouco prazer na intimidade, porque são quase sempre fraquíssimas amantes quando não são mesmo casos clínicos, anorgásticas ou frígidas (há vários trabalhos que mostram que as mulheres mais atraentes têm menos relações sexuais, apesar da muito maior oferta de parceiros e tiram daí menos prazer que as mulheres menos atraentes). não sei explicar o porquê deste dados estatísticos, mas diria que não há boa amante sem sensibilidade e inteligência e em geral estas duas qualidades estão muito sub-representadas na categoria GBs mas admito que posso estar errado, de todo não é esta a minha praia.
a pergunta sacramental que homens e mulheres se deviam fazer quando se cruzam em algum lugar é:
quanto prazer me pode dar este ser?
a experiência mostra-me que as gajas boas ficam quase sempre bastante mal nesta fotografia, têm libidos objectais débeis** e libidos narcísicas fortes. são uma fonte de problemas e não de deleite para o homem-espelho que escolherem.

porque insistem os Homens em construir gajas boas?


antes de mais porque são e sempre foram gozadores de focinho de porco, estão longe de ser gourmets sexuais e depois porque a asneira é livre!



* rácio vem de razão, relação entre dois conjuntos, calcula-se fazendo a divisão entre o número de elementos de um conjunto e o número de elementos do outro. se por exemplo há uma gaja boa e uma gajas normal o rácio será 0.5 (50%); se há uma gaja boa e três gajas normais o rácio será 0.25 (25%).


** "É, (…) em Sobre o Narcisismo: uma introdução, que o conceito de narcisismo é inserido no conjunto da teoria psicanalítica, (…) Freud discute a possibilidade que a libido tem de reinvestir o ego desinvestindo o objecto. (…) quanto maior o investimento no objecto, mais se dá a retirada da libido sobre o sujeito e vice-versa.


P.S.: por definição uma mulher bela não é forçosamente uma gaja boa [basta que não acredite ser uma GB e automaticamente não o é]. é aliás curioso constatar que mulheres belíssimas não se consideram gajas boas e autênticos estafermos despidos sejam gajas boas.


P.P.S: as feias que lerem este post e ficarem deliciadas, não se precipitem já. um GS evita as feias, são difíceis de levar para a cama e é impossível tirá-las de lá!






Comentários

  1. O gourmet sexual sabe que o sabor da “iguaria” está na forma como ela é preparada e no modo como é degustada. O tempero e a guarnição refinam ou acabam com o prato. De nada vale abater a perdiz, senão souber deixa-la no ponto certo. Quanto às gajas boas essas vão sempre desfilar nos verões e fazer brilhar os olhos por onde passam. Já dizia Vinícius de Moraes: “me perdoem as feias, mas beleza é fundamental”. Palavra de poeta não se contesta. Mas concordo que aquelas que fogem desse contexto de “perfeição” agarram a vida com mais afinco e lidam com sua sexualidade de forma mais intensa. Ser bela e se reconhecer bela é difícil. Mas ser “normal” e se reconhecer bela, é tudo... É essa aceitação diante do espelho que se reflete na cama. A ousadia, prazer e entrega são conseqüência.

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  2. Desculpa...mas acho que fiquei loira num repente...! beijo
    Tu sabes porquê!

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