Último terço

"Aos dois terços da vida se não sabemos o que contém o último é porque não aprendemos nada, portanto nunca aprenderemos, portanto não aprenderemos mais."
M. Onfray, "Le recours aux forêts"

Desces as pálpebras de cansaço
como se fosse a última vez que as desces.
E ainda esperas à porta
pela forasteira que não virá?

Pegam-te na mão com posse
Deixa-la ficar presa sem desejo.

Morre-se com as pálpebras abertas
quando se viveu d’olhos fechados.

Sonha pequeno anjo
que o tempo corre contigo
como um rio bom
e a correnteza te leva sem dor
ao encontro do teu canto de terra
ao encontros dos sonhos.

Não, não me dêem passagem
que não tenho pressa em chegar.
Ainda me corre o sangue
nas carnes cravadas de espinhas.

Sei o que me vem nesse terço
frio e húmido de chuvas.

Sem ilusões ainda rio e caminho
desenhando cornucópias vazias.
Ponho no lugar do siso
a doce tremura do desejo.
Mas acerca-se, o anjo caído
e o tempo de esperar, esperar apenas.

Lisboa, 12 de Maio de 2011

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