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A mostrar mensagens de outubro, 2012

A arte do chamulho

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À propensão das mulheres para se prostituirem, de forma não identificável como tal*, respondem os homens com o engano; fazem-se passar por mais saudaveis, mais generosos, mais poderosos ou mais ricos do que são. Somos escravos da necessidade, sei-o bem. A reprodução reina no tempo da juventude, a busca do melhor macho reprodutor não se limita à floresta, veio até à cidade e quem não tem os atributos certos não tem de aceitar essa condição passivamente. Não deposito portanto nenhum juízo moral sobre estas duas faces da mesma moeda, a prostituição socialmente aceite e a manha dos homens... A nobre arte de enganar mulheres que prometem copular em troca de algo mais do que a simples cópula tem nome em Buenos Aires, chama-se " El arte del chamuyo ", uma velha palavra de origem castelhana: chamullo, " Palabrería que tiene el propósito de impresionar o convencer ". Buenos Aires? Sim, pensem no que é o tango , o seu ritual, o seu propósito. E imaginem uma cultura de h

Vinhas doidas

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Videira (cepa) As plantas têm uma alma simples, uma alma de planta  (clicar em caso de dúvida!). Uma alma tropical, para sobreviver no frio das almas da Europa, tem de ficar "estranha", enlouquecer o bastante. Uma flor do sul que viaje para o Norte, uma flor vadia, em 6 meses murcha... tem de regressar ao solo do sul para reverdescer ou morre por dentro. --- Vou contar um pouco da história de uma planta enviada pelos Deuses, a videira. Uma viajante para o sul. Uma viajante que enlouqueceu. --- A videira é uma trepadeira da Europa, é nobre, antiga, vive vidas longas, mais de 100 anos, vê os homens vir e passar; Parreira em Óbidos - foto Rafael Teixeira de Lima forte e estóica gosta de maus solos, gosta de uma vida difícil, é estranha e diferente das demais plantas. Ao mesmo tempo tem uma vida bonita e se for bem tratada é feliz. A usamos para enfeitar as casas como se fosse uma hera. O meu pai plantou uma em frente da porta de casa, a minha mãe encarregou-se d

O caminho do meio

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Jesus, Judas e Pedro caminham pela Judeia e deparam com um rio caudaloso. Judas diz: -É pá! Que rio! Como vamos atravessar, mestre? - Caminhando sobre as águas, Judas. - Oh Cristo, olha que eu não sei nadar, retorque Judas! - Oh homem de pouca fé, confia em mim e não te afogarás! Avança Pedro e atravessa, quase caminhando sobre as águas, com a água apenas pelos tornozelos. A seguir vai Jesus e, como era seu costume, caminha calmamente sobre as águas. Judas começa por sua vez a travessia. Desconfiado, como sempre. Com medo de se afogar. Dá um passo e já tem a água pelos joelhos... Diz, assustado: - Oh Cristo, olha que eu não sei nadar! - Oh homem de pouca fé, confia em mim e não te afogarás! Dá outro passo e já tem água pela cintura. Com a voz esganiçada diz: - Oh Cristo, olha que eu já te disse que não sei nadar! - Oh homem de pouca fé, confia em mim, não te afogarás! Dá mais um passo e já só tem a cabeça fora de água. Com Judas quase a afogar-se diz Pedro para Jesus: -

Deus mandou matar Malala

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Malala Yousufzai – foto Nighat Dad Numa longa mensagem enviada há quase 1400 anos, Deus, mandou matar Malala . Em vez de ser ele a fazer o trabalho sujo, por exemplo fazer explodir a cabeça da miúda, como uma melancia, em pleno vale de Swat. Não, Deus preferiu mandar a mensagem e deixar que os assassinos fossemos nós. Deixar que a nossa ridícula razão interpretasse as suas palavras e premisse o gatilho. E se Deus não puder ser compreendido pelos humanos? Se todos os textos sagrados não passarem de imposturas religiosas fruto da nossa incompreensão do Criador? E se todos os homens de Deus fossem afinal homens do Diabo? “Apesar de ela ser nova e uma menina e de os taliban não acreditarem em ataques a mulheres, qualquer um que faça campanha contra o islão e a sharia deve ser morto, segundo a sharia ”, explicava há dias o porta-voz do grupo no comunicado em que o ataque foi reivindicado. “Não é apenas permitido matar uma pessoa assim, mas obrigatório.”

Da riqueza e da pobreza material

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O que é a propriedade? Descobri que para que existam ricos é necessário que haja pobres a quem os primeiros possam comprar parte da vida (horas de trabalho). Não tinha a certeza, no fundo talvez pudéssemos acabar com a pobreza sem acabar com os ricos. Mas não é possível porque a riqueza é essencialmente definida pela possibilidade da compra de pedaços baratos de vidas alheias (horas de trabalho) com custos baixos para que a riqueza não se delapide rapidamente. A ideia nada tem de original mas ainda não tinha percebido a falácia da direita e da esquerda moderada quando dizem que "não queremos acabar com os ricos, queremos é acabar com os pobres". A riqueza é horas de trabalho dos outros, acumuladas por um. Não quero dizer que seja injusto podermos comprar pedaços de servidão voluntária de outrem, pelo contrário; todos o fazemos quando vamos ao médico ou temos aulas. Mas o que dizer das heranças, os teus filhos já nascerem com direito à servidão dos meus ainda por nas

As mulheres de Camus ( II )

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Quando no futuro se falar em D. Juan vai-se falar em Albert Camus. Principalmente pela vida que viveu mas também pelo capítulo que dedica ao Burlador de Sevilha em O mito de Sísifo . Camus não é um sedutor qualquer, ele é o que é perdoado facilmente pelas suas conquistas: o grande sedutor. As mulheres perdoam aos grandes sedutores e apenas se sentem usadas pelos medíocres. Para quem não gosta de sedutores deixo o link do artigo do Guardian, aqui . Acho-o mal escrito e cheio de incorreções mas vai acalmar os corações das senhoras e senhores que acham que o amor é lindo se for um homem e uma mulher, somente. Fica de seguida uma recente entrevista da filha, Catherine Camus, a um jornal catalão, Las mujeres de Camus e um texto sobre a biografia de Oliver Todd, “Camus and his Women”. As mulheres de Camus texto original de  Héctor Aguilar Camín "Nos últimos dias de Dezembro de 1959 o escritor Albert Camus, que havia ganho o prémio Nobel dois anos antes, escreve